'2022 não teve mamadeira de piroca': a disputa dos presidenciáveis na web
"De repente 13", postou o perfil @LulaOficial às 7h20 de 19 de setembro. A 13 dias das eleições, a mensagem abriu a manhã do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que horas depois se encontraria com oito ex-presidenciáveis num hotel em São Paulo.
O candidato fez o que se faz numa campanha: conversou com os companheiros, discursou, posou para fotos. Transmitido ao vivo nos seus perfis oficiais, o encontro ainda rendeu registro no Instagram e no Twitter com as arrobas dos aliados, três hashtags e a legenda "dia alegre" — um trabalho que aconteceu depois, nos bastidores.
Três profissionais têm acesso às contas do ex-presidente: o fotógrafo Ricardo Stuckert cuida do Instagram e do YouTube; o assessor José Crispiniano e a estrategista digital Brunna Rosa, do Facebook e do Twitter. Stuckert e Brunna (que não cobre a agenda de Lula) dividem-se no TikTok e no Kwai, segundo uma das integrantes da equipe. Eles seriam os principais "adms" da campanha.
O "adm" não é apenas um indivíduo, mas uma entidade, diz Isis Vasques, diretora-executiva da agência Ecco, de São Paulo. Para representar a "persona" de um político, uma marca ou um BBB na internet, "é preciso incorporar o 'tom de voz' do cliente nos posts".
Ao menos quatro tipos de profissionais participam do gerenciamento de redes sociais, no geral: um estrategista traça a estratégia maior, considerando os alvos do cliente; um redator escreve os posts; a arte edita fotos e vídeos; e um gestor administra as interações no dia a dia, dá likes, responde comentários etc. O gestor ou outro profissional fica de olho nos números para avaliar o impulsionamento de publicações — os nomes dos cargos podem mudar de agência para agência, mas os pilares são essencialmente esses. "O 'adm' precisa ouvir a voz dos seguidores e interagir."
Na campanha, os candidatos têm viajado o Brasil para divulgar suas propostas, e é improvável que eles parem para escrever uma longa legenda no Instagram ou para responder a alguém com uma série de emojis no Twitter. É a #equipe quem faz isso, às vezes sem precisar da aprovação do cliente.
A agência de Isis atendeu por muito tempo um senador do Pará, cuja assessoria aprovava previamente os posts, mas não as interações. Com o tempo, conta ela, o cliente tende a confiar e dar mais autonomia aos gestores.
Identificar o tal "tom de voz" é essencial para galgar autonomia. "É uma imersão na personalidade do candidato. É simpático ou durão, formal ou informal, popular ou mais intelectual?", exemplifica a especialista. "E é preciso um mix entre o estilo do candidato e a linguagem própria de cada rede social, sem querer ser engraçadão ou 'tio do pavê' onde não é para ser."
Janones & Carluxo
"Lula, não existe isso de ser maior na rede social ou na realidade. Porque a realidade é a rede social", disse o deputado federal André Janones (Avante-MG) num encontro para discutir a estratégia digital do ex-presidente, segundo o parlamentar mineiro relatou num "spaces" no Twitter, na noite de 16 de agosto.
Desde que embarcou na campanha digital de Lula, Janones já protagonizou barraco com o ex-ministro Ricardo Salles (PL-SP) e confrontou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), a quem se referiu como "miliciano", com uma linguagem muito mais direta e agressiva que a da campanha oficial. "Janones virou o Carluxo de Lula", sintetizou Pablo Ortellado, professor da USP, ao UOL no dia 25 de agosto.
Carluxo é uma referência ao filho 02 do presidente Jair Bolsonaro (PL). É atribuída a ele a estratégia de campanha digital que ajudou a eleger o pai, em outubro de 2018, e a estrutura do "gabinete do ódio", um departamento dentro da Presidência que disseminaria fake news e ataques virtuais a adversários, autoridades e instituições. Ante as críticas à inclusão do vereador do Rio na comitiva à Rússia, em fevereiro de 2022, Bolsonaro justificou: "Ele mexe nas nossas redes sociais prestando informações a todos do Brasil. Se vocês analisarem o conteúdo que postamos no Facebook, Twitter e Telegram, grande parte passa pelo crivo dele".
Entre os presidenciáveis, Bolsonaro lidera no Instagram (21,4 milhões de seguidores), Facebook (14 milhões), Twitter (8,9 milhões), YouTube (3,8 milhões) e TikTok (2,7 milhões). "A extrema direita nada de braçada na internet" é um lamento comum de campanhas progressistas.
O algoritmo ajuda, visto que discursos controversos e até violentos alavancam alto engajamento. Recentemente, o Twitter identificou que posts de direita têm mais alcance; de acordo com a investigação Facebook Papers, o Facebook também tende a destacar posts com polarizações e mentiras; e, segundo recente estudo do NetLab, da UFRJ, o YouTube privilegia vídeos pró-Bolsonaro.
O "tom de voz" é outro fator. "Tabajara Futebol Clube diz por que não quer Neymar em seu time", publicou o perfil @jairbolsonaro, ironizando um post da revista Veja, que dizia que a jornalista Gabriela Prioli não queria o presidente em seu programa na CNN Brasil, ao passo que Lula, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) privilegiam posts um tanto institucionais, destacando discurso oficial e fotos das campanhas.
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