Topo

Em Lisboa, boletins de urna dão Lula com mais de 60% dos votos válidos

Cristiana Santos (à esq.), a primeira da fila em Lisboa, e colegas que fez no local - Luciana Alvarez/UOL
Cristiana Santos (à esq.), a primeira da fila em Lisboa, e colegas que fez no local Imagem: Luciana Alvarez/UOL

Luciana Alvarez

Colaboração para o TAB, em Lisboa

30/10/2022 11h03

Para ter a certeza que votaria logo, Cristiana Santos, 58, chegou às 3h da manhã à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, o maior colégio eleitoral brasileiro no exterior, com 45 mil pessoas registradas. Seus primeiros colegas de fila chegaram a partir das 4 da manhã. Às 6 horas, diz ela, já havia filas.

"Preciso trabalhar, então tenho que ser a primeira. Quando cheguei éramos só eu e o policial", afirmou. Além das horas na fila, Cristiana enfrentou a estrada, porque mora em Alcobaça, cidade a 120 km de Lisboa. Mas garante que o esforço vale a pena. "Essa eleição é importantíssima para o rumo do país", afirmou.

Portugal tem oficialmente uma comunidade de 252 mil brasileiros e 80,8 mil eleitores registrados para votar. Além de Lisboa, há votação no Porto (norte do país) e em Faro (sul). No primeiro turno, as filas na capital portuguesa foram enormes, com eleitores tendo relatado até 4 horas de espera. O horário de votação precisou ser estendido por três horas para que todos tivessem seu direito ao voto respeitado.

O consulado contratou uma empresa para organizar a entrada, com funcionários que orientavam as pessoas ainda do lado de fora do prédio, separavam quem podia seguir na fila preferencial, colocaram baias de metal para fazer a fila em zigue-zague. A saída dos eleitores passou a ser pelo fundo do prédio, assim quem entrava e quem saía não se cruzavam. O consulado também conseguiu acertar com a Guarda Nacional o fechamento para os carros da rua em frente da faculdade.

Mesmo com toda logística nova, pela manhã as filas continuaram enormes, indo muito além das grades, dando a volta nos prédios da faculdade e chegando até um estacionamento, fazendo com que carros e pessoas a pé disputassem espaço. Contudo, por volta das 13h, as filas já estavam "sob controle", ocupando apenas o espaço separado para ela.

A fila para votar na frente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa - Luciana Alvarez/UOL - Luciana Alvarez/UOL
A fila para votar na frente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Imagem: Luciana Alvarez/UOL
Repórter de TV local cercada pelas 'torcidas', no maior colégio eleitoral brasileiro fora do país, em Lisboa - Luciana Alvarez/UOL - Luciana Alvarez/UOL
Repórter de TV local cercada pelas 'torcidas'
Imagem: Luciana Alvarez/UOL

Regiane Parente, 40, chegou por volta das 7h30 e elogiou a organização. "São 8h20 e já estou despachada. No primeiro estive aqui 3 horas", contou.

Polícia portuguesa separa os grupos lulista e bolsonarista em Lisboa - Luciana Alvarez/UOL - Luciana Alvarez/UOL
Polícia portuguesa separa os grupos lulista e bolsonarista
Imagem: Luciana Alvarez/UOL

Assim como no primeiro turno, depois de votarem, eleitores dos dois lados passaram a se reunir na frente da Faculdade de Direito. Os grupos gritavam e cantavam muito próximos de quem estava na fila para votar. Houve um princípio de tumulto e a polícia local interveio. Os policiais portugueses colocaram os grupos mais distantes da fila e um do outro.

Desta vez, a votação foi encerrada dentro do período previsto. A compilação dos boletins de urna indicam que Lula teve 64% dos quase 20 mil votos válidos.

Oportunidade

Ao lado da fila de votar, uma banquinha vendia café de coador, bolo de cenoura, beijinhos e trufas. As assistentes dentárias e amigas Renata Oliveira, 33, e Bárbara Santarelly, 29, aproveitaram o dia da eleição para ganhar dinheiro com seus talentos culinários. "No primeiro turno, a gente vendeu tudo que trouxe. Desta vez, trouxemos mais: só de bolos são 17", contou Renata. No meio da provocação de algum eleitor, as amigas tinham o discurso já ensaiado. "Aqui somos neutras, vendemos para todo mundo."

Em Portugal, fora de pontos turísticos, é raro ver vendedores ambulantes — e a polícia costuma coibir esse tipo de trabalho. Mas neste caso, elas seguiam seu trabalho sem problema, mesmo com policiais por perto. Não foram as únicas. Ainda nem eram 10h e Andreia Marques, 44, já tinha vendido todas as coxinhas que tinha no porta-malas do seu carro. "Um lugar desses, com essa fila, e não tem nada perto, nem onde comprar uma água. Tive que pedir para a minha filha fritar mais e trazer", contou, satisfeita.