Em 2019, 'um dia de cão' para a imprensa. Em 2023, 'Lulapalooza'
Quatro anos atrás, a imprensa viveu "um dia de cão" na cobertura da posse do presidente Jair Bolsonaro (à época, no PSL), em Brasília. Repórteres não foram autorizados a transitar livremente ou arriscar entrevistas na Esplanada dos Ministérios, fotógrafos não podiam levantar suas máquinas ("qualquer movimento suspeito poderia levar um sniper a abater o 'alvo'", relatou a jornalista Mônica Bergamo, da Folha).
Todos precisavam chegar ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) no dia 1º de janeiro de 2019 às 7h da manhã para de lá ir ao Congresso — e lá esperar por horas, de braços cruzados, sentados no chão, sem comida e com acesso a apenas um banheiro (para centenas de jornalistas) até ver Bolsonaro entrar no parlamento, às 15h.
Era possível levar lanche, embalado em plástico transparente, mas nem isso foi tão simples: maçãs, por exemplo, só foram aceitas aos pedaços, não inteiras ("alguém pode jogar uma delas na cabeça do Bolsonaro; e maçã machuca", um dos profissionais disse a Bergamo). Jornalistas indignados abandonaram a cobertura da posse. "Foi humilhante. Mal sabia que viriam outros momentos assim durante o governo", relatou-me uma repórter, lembrando a hostilidade do então presidente no cercadinho à imprensa.
Na manhã de 1º de janeiro de 2023, repórteres já estavam na Esplanada ouvindo o público que se aglomerou para assistir à posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "O sentimento hoje é de tirar a corda do pescoço", disse uma das entrevistadas do UOL. Lula desfilou no Rolls-Royce, subiu a rampa do Planalto e discursou diante de uma multidão — e de cerca de 700 jornalistas, espalhados em diferentes pontos.
No centro de imprensa instalado na Sala San Tiago Dantas, no subsolo do Itamaraty, que entre agosto e setembro abrigou o coração de D. Pedro 1º, jornalistas argentinos precisaram pedir ajuda aos colegas para compreender um grito que reverberou durante o discurso do presidente. Era "Lula, guerreiro, do povo brasileiro".
No Ministério das Relações Exteriores, os organizadores disponibilizaram internet (um tanto instável), transmissão oficial e tradução simultânea para inglês e espanhol. No menu, café, quiches, penne frio, salada de frutas e mousse de chocolate, entre outros — nada de mais, mas melhor que maçã picada oxidando na mochila.
Durante o dia, a movimentação não teve percalços no Itamaraty e no Congresso, nada tão agitada quanto a do fotógrafo Ricardo Stuckert, que foi aos trending topics do Twitter registrando o passo a passo do presidente recém-empossado. A certo ponto, jornalistas angolanos suspiraram de tédio no subsolo — "muito parado".
Tão tranquilo estava o clima no Itamaraty que foi uma surpresa quando o jornalista Edmildo Cirilo, do site Parlasulnews, surgiu informando que seu notebook desapareceu, por volta das 17h. O equipamento, segundo ele, ainda não foi localizado.
Às 18h, a sala foi se esvaziando. Jornalistas lentamente subiram ao térreo do palácio, à espera das autoridades e convidados para a nomeação dos ministros e para o jantar que encerraria o dia. Para outros, só terminaria nos shows do Festival do Futuro, informalmente apelidado de "Lulapalooza", madrugada adentro.
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