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Sites pornô viram alternativa para ver filmes e séries de graça

Internautas publicam lançamentos e séries em sites pornográficos para não recorrer às plataformas de streaming - Osmar Portilho/UOL
Internautas publicam lançamentos e séries em sites pornográficos para não recorrer às plataformas de streaming Imagem: Osmar Portilho/UOL

Marie Declercq

Do TAB

17/05/2020 04h00

Na segunda-feira (11), o youtuber Felipe Castanhari gerou comoção ao incentivar seus seguidores a subirem vídeos produzido por ele no Xvideos — um dos maiores sites de pornô streaming do mundo e o mais acessado do Brasil. Os vídeos publicados no "Canal Nostalgia", que conta com mais de 13 milhões de assinantes, definitivamente, não são pornográficos. Mas a publicação nessas plataformas foi uma solução temporária para possibilitar que as pessoas continuassem assistindo a seus conteúdos, que foram derrubados pelo YouTube por violação de direitos autorais.

Nos últimos anos, não é nada incomum encontrar, em sites pornô, filmes de Hollywood, séries e até músicas ou videoclipes que foram derrubados do YouTube por apresentarem algum tipo de violação em direitos autorais. Indiretamente, a prática também se tornou uma espécie de "dedo no meio" para grandes indústrias do entretenimento, disponibilizando conteúdos para quem não pode pagar por eles. Em uma rápida busca pelo Xvideos, é fácil encontrar desenhos da Pixar, documentários e até um stand-up do Whindersson Nunes na plataforma.

Dá para encontrar até o stand-up do Whindersson Nunes em sites pornôs - Reprodução - Reprodução
Dá para encontrar até o stand-up do Whindersson Nunes em sites pornôs
Imagem: Reprodução

O bartender Raphael Luriann é um dos adeptos da nova prática de assistir lançamentos, de graça, em sites pornográficos. "O primeiro que eu vi foi 'Pantera Negra'. Um dia depois que entrou em cartaz nos cinemas, já tinham soltado um link do xHamster do filme em Full HD. Algum usuário no Reddit teve a ideia de colocar lá e virou moda. Dois meses depois, já tinha até filme cult", conta. "Qualquer um com um celular pode assistir e, dependendo da plataforma, até baixar. As pessoas começaram a compartilhar por piada, mas é extremamente útil. Acho super válido."

Já Vitória Antunes, estudante de jornalismo, diz que recorrer às plataformas pornô foi a solução para continuar assistindo filmes com qualidade, mesmo com uma conexão ruim de internet em casa. "Moro num bairro do Grajaú e, aqui, não tem fibra ótica. Minha internet sempre foi lenta, nunca consegui baixar torrent nem nada. No começo de 2019, vi em uma página do Facebook lançamentos recentes que estavam disponíveis no Xvideos. Resolvi procurar para ver se tinha 'Nasce uma estrela', assisti e rodou rápido na minha internet", diz. "Eu me arrependo também, porque não consumo pornografia e sempre vi como algo problemático, mas quando via os filmes, não enxergava pela ótica de que tava contribuindo para o site. Para mim, só estava em uma ocasião isolada vendo meus filmes."

No ano passado, uma série de blockbusters foram parar no Xvideos e em outros sites parecidos, rivalizando não só com os cinemas, mas também com o catálogo de gigantes como a Netflix e a Amazon Prime Video. Obras como "Coringa", "Doutor Estranho", "Rei Leão" e "Bohemian Rhapsody" começaram a brotar em alguns canais no site, criados justamente para subir filmes. A facilidade de poder subir vídeos nessas plataformas, inclusive, acaba sendo um grande incentivo. Os sites pornôs, entretanto, não são rincões sem lei na internet: em questão de dias, produtos culturais com direitos reservados são tirados do ar por causa do DMCA (Digital Millennium Copyright Act).

Filmes de Hollywood são publicados em sites pornôs para driblar direitos autorais - Reprodução - Reprodução
Filmes de Hollywood são publicados em sites pornôs para driblar direitos autorais
Imagem: Reprodução

O DMCA é um conjunto de regras e leis sancionado em 1998 nos Estados Unidos, criado para ampliar a proteção de direitos autorais na internet. "Essa legislação obriga qualquer site a derrubar qualquer conteúdo que possa ter violação de direitos autorais mediante o recebimento de uma notificação. Por exemplo: se o titular manda uma mensagem para o YouTube sobre um vídeo que viola direitos autorais, o site passa a ser obrigado a remover aquele conteúdo o mais rápido possível, sob pena de ser corresponsabilizado pela violação", explica Ronaldo Lemos, advogado e fundador do ITS Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro). "Os sites pornôs estão nessa mesma situação. Se alguém postar um conteúdo que viola direitos autorais e o titular notificar, ele também vai ter que tirar do ar sob pena de ser corresponsabilizado."

E realmente funciona. Os vídeos de Castanhari, por exemplo, foram derrubados um pouco menos de 24 horas após a publicação. Além disso, o próprio XVideos (que é hospedado na República Checa) e outros sites de pornografia se comprometeram a ajudar a combater a pirataria. O formulário existe em todos os sites, mas, no caso de vazamento de vídeos não autorizados, como o pornô de vingança, se tornou também uma forma rápida da vítima conseguir tirar do ar conteúdos não autorizados.

Mesmo com grandes empresas tentando competir com a rapidez da internet em controlar direitos autorais e evitar a pirataria, Lemos afirma que é uma briga de gato e rato. "Você posta no YouTube, aí o YouTube derruba, aí colocam em um site pornô, derrubam, depois mandam para a deep web. É sempre algo desse tipo. Porém, as pessoas postam em sites pornôs, primeiro, porque eles estão abertos para uploads, segundo porque apostam que pode não ter a mesma velocidade que o Google tem para derrubar o conteúdo e, terceiro, porque isso gera uma repercussão. É engraçado fazer upload nesses sites e isso acaba gerando um efeito viral, atraindo público e até uma disseminação de uma conversa sobre isso."