'Se vir alguém no chão, sou eu': a madrugada num camarote em São Paulo
Do lado de fora, chuva e arquibancadas vazias. Do lado de dentro, coberto e repleto de torneiras de chope, euforia e interesse zero nos desfiles. "Camarote é camarote", explica um habitué. A madrugada de sábado, quando as campeãs do Carnaval paulista desfilaram no Anhembi, é a mais lotada da 21º edição do espaço de 7.000 m² que leva o nome de uma cervejaria.
A organização confirma que foi o dia mais disputado — possivelmente porque muitas pessoas viajaram na semana de 21 de abril e o desfile no Rio de Janeiro aconteceria 24h depois. Também era noite de grandes atrações como Pedro Sampaio e Barões da Pisadinha. Outro motivo plausível, segundo os seguranças, é simplesmente o fim. "Agora, só ano que vem."
Não são poucas as mulheres chegando de salto alto, microssaias e dispostas a segurar o look até o fim da festa. "Eu estou bacana, e você?", aborda uma delas. Ao som de Araketu, um grupo pula "dançando que nem pipoca" já na entrada. É o anúncio do que viria: o encontro com seis mil pessoas vivendo qualquer coisa, menos tédio. Entre elas estão oito amigas, na faixa dos trinta, todas de Santos (SP). Na van rumo ao sambódromo do Anhembi, uma delas anuncia: "Se vir alguém no chão, sou eu". Referia-se à coreografia de "Envolver" (música de Anitta). "Não coloca meu nome na reportagem que serei demitida, mas pode me chamar de Juliette."
Ali estavam, por exemplo, muitos casais enchendo a noite de sorrisos e beijos quentes. Fábio Lima e Thais Felizardo — os sobrenomes estavam impossíveis de serem ouvidos, dado o barulho — ficam há dois anos e parecem feitos um para o outro. É a segunda vez deles no camarote. Agora vão assumir de vez? Fazem cara de paisagem, caem no riso e voltam a dançar.
Também numa relação "sem rótulos" estão Luiz Felipe Matos e Luiz Mufato. Eles combinam as barbas enfeitadas com glitter verde e amarelo. E reviram os olhos quando perguntados se são bolsonaristas. "Tá louca?!". Um deles diz que o verde-amarelo precisa ser resgatado pelos brasileiros.
Fumantes de cigarro eletrônico e bebuns que não chegam a incomodar, fingindo que estão sóbrios, são figuras pungentes no ambiente e estão por toda parte. Um deles está grudado na grade, aguardando o show do DJ Pedro Sampaio. Não é o único que disputa o espaço. "Vim por ele", confessa Luana Zilio que, minutos antes, relaxava num pufe no segundo andar.
Famosos, cadê?
É a 21º edição do camarote e tudo parece perfeitamente organizado para um evento tão grande. São dois palcos no térreo, cercados por torneiras de bebidas variadas e entradas para outros espaços — caso do Business, reservado para o comercial, e do Platinum, que oferece nível avenida e bufê. No segundo andar há um espaço para relaxamento com pufes, um quiosque de massagem, uma praça de alimentação e a entrada para a área VIP onde supostamente estão os famosos. Nomes como o do jogador Amaral, os ex-BBB Felipe Prior e Gabi Martins, as atrizes Mylla Christie e Paloma Bernardi estavam na lista de confirmados, mas a reportagem não encontrou muitos nomes no período que passou ali. O comentário era de que preferiram dar as caras no baile da Vogue.
Tato, vocalista do grupo Falamansa, é uma das figuras de rosto conhecido que circulam no espaço. Acompanhado da mulher, grávida, distribui sorrisos. Ele discorda sobre São Paulo ser o túmulo do samba e, numa rápida mudança de assunto, diz que, entre Lula e Bolsonaro, vai de Lula. Para Ana Paula Renault, apresentadora e ex-BBB, a originalidade está em falta no Brasil. Seja no reality da TV Globo, seja na vida. "[As pessoas estão] Cada vez menos naturais", reflete.
'Pero no te vaya a envolver'
A música de Anitta que atingiu o topo do Spotify no mundo não tocou, mas TAB reencontrou "Juliette" fazendo selfies numa parede de plumas cor-de-rosa, um espaço instragramável. Animada, abraçou a reportagem e cumpriu o prometido: jogou-se no chão rebolando. É a coreografia de "Envolver", desafio que virou hit no TikTok. A intervenção causou um pequeno tumulto. "Ela furou a fila", reclamou um folião. Ela não liga. "Estou muito feliz."
Uma das perguntas mais ouvidas pelo TAB é "vocês tiram a foto e depois mandam pra gente?". Desapontados, desistem quando veem o crachá de imprensa. "Melhor não", fogem.
No chão, novinha
1h30 da madrugada de sábado. Regina Exner agarra-se ao corrimão quando Pedro Sampaio sobe no palco. O local treme ao som de "Galopa". Delirante, o público se entrega à coreografia de "No chão, novinha" com as piores intenções. "Esse show não acaba?", pergunta uma mulher que está ali para assistir Barões da Pisadinha. Pedro sai do palco às 3h30, ovacionado. "O cara é bom", comenta um segurança.
Na pista, com tema sobre a água, a Mancha Verde, campeã do Carnaval 2022, desfilou sob chuva. O evento no camarote terminou às 7h da manhã de sábado.
Na volta, numa das vans reservadas para o camarote, dois amigos bêbados, de meia-idade, reclamam do evento. "Só tinha mulher velha ou comprometida."
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