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Paulo Sampaio

Ela não era aquele demônio, diz repórter que dormiu na cela de Paula Thomaz

Com o nome de Maria do Socorro, a jornalista Paula Máiran passou duas noites na cela de Paula Thomaz, em 1996 - Paulo Sampaio/UOL
Com o nome de Maria do Socorro, a jornalista Paula Máiran passou duas noites na cela de Paula Thomaz, em 1996
Imagem: Paulo Sampaio/UOL

Colunista do TAB

31/01/2021 04h01

23 de abril de 1996. As cinco companheiras de cela de Maria do Socorro Pereira da Silva estavam jogando dominó quando ela chegou à carceragem da Polinter (Polícia Interestadual do Rio de Janeiro), em Campo Grande, na zona oeste do Rio. A recepção não foi exatamente amigável.

"Puta que pariu, mais uma!", esbravejou Robenice, chefe informal da cela. Soldada do tráfico, Robenice estava acostumada a pegar em armas e ir para o front. Na cadeia feminina, tornou-se guarda de confiança dos policiais, todos homens. Limpava a sala deles, fazia a comida que comiam e estava autorizada a vender quentinhas para as detentas que podiam comprar.

Maria do Socorro foi o nome que a jornalista Paula Máiran escolheu para se identificar, quando recebeu a missão de relatar o dia a dia da presa mais famosa daquela unidade da Polinter, senão de todo o Rio de Janeiro, quiçá do Brasil. Paula Thomaz era acusada de participar do assassinato da atriz Daniella Perez, filha da novelista Gloria Perez, consumado a golpes de tesoura às vésperas do Réveillon de 1992.

Na época do crime, Paula estava grávida e teria agido junto com o pai de seu filho, o ator Guilherme de Pádua, par romântico de Daniella na novela "De Corpo e Alma" (TV Globo). Muito midiático, o crime rivalizou em audiência com o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Em 1997, Guilherme e Paula foram condenados a 19 anos de prisão.

Paula Thomaz e Guilherme de Pádua evitam se olhar na chegada ao Fórum do Rio para julgamento, em 1997 - Patrícia Santos/Folhapress - Patrícia Santos/Folhapress
Paula Thomaz e Guilherme de Pádua evitam se olhar na chegada ao Fórum do Rio para julgamento, em 1997
Imagem: Patrícia Santos/Folhapress

Em nome da mãe

Recém-chegada à redação do jornal O Dia, Máiran, então com 27 anos, havia feito algumas reportagens especiais, mas nada que se comparasse a passar 48 horas numa cela de 9 m² — vaso sanitário e chuveiro incluídos. A identificação escolhida foi sintomática. "Maria do Socorro é o nome da minha mãe. Foi o que me ocorreu na hora em que me pediram para criar uma identidade falsa", lembra Paula, hoje com 53. Ela recebeu TAB no apartamento em que mora, em Niterói, região metropolitana do Rio.

Na roda de dominó, além de Paula e Robenice, estavam Renatinha, 18, viúva de traficante; Irismar, 20 e poucos, presa por levar maconha na mochila da filha de 6; e Laura, 44, punguista (batedora de carteiras profissional). Separada do corredor da carceragem por grades que iam do chão ao teto, a cela não era equipada com camas ou beliches, apenas colchonetes estirados no chão.

"Elas foram logo mandando a real", conta Máiran. "Disseram que novata, ali, dormia no cimento e com a cara virada para o boi (vaso sanitário)."

Paula Thomaz deixa presídio em Niterói (RJ) com seu advogado, Carlos Eduardo Machado - Michel Filho/O Globo - Michel Filho/O Globo
Paula Thomaz deixa presídio em Niterói (RJ) com seu advogado, Carlos Eduardo Machado
Imagem: Michel Filho/O Globo

Sanduichinho de patê

O primeiro gesto acolhedor veio justamente de Paula Thomaz. "Ela me ofereceu um sanduichinho de patê", lembra a jornalista. O segundo, para surpresa de Máiran, foi de Robenice. "No meio da madrugada, eu deitada direto no cimento, ela me cobriu com um lençol."

Ao longo do tempo, as observações positivas a respeito de Thomaz conduziriam Paula Máiran a um relato bem distante do esperado. Ela conta que fez o que o coração mandava. "Eu estava ali para relatar o que vi e senti, e a pessoa que encontrei não era o demônio retratado até então pela imprensa."

Paula Máiran é uma mulher grande, exuberante, idealista, de valores inegociáveis. "Eu não me considerava uma repórter de polícia, e sim de direitos humanos. A princípio, a celebridade da Paula Thomaz era um detalhe pra mim. Eu estava interessada no viés da política de segurança pública, do encarceramento, do genocídio."

Escola da vida

A pauta foi passada a ela pelo diretor de redação do jornal, Eucimar Oliveira. Ele a chamou em sua sala e falou da missão como algo "sigiloso, ninguém na redação pode saber". "Era a primeira vez em que eu entrava na sala do diretor de redação. Eu tinha alguma experiência com matérias de polícia, estava entusiasmada, mas não era malandra. Mergulhava nas histórias sem pensar nas consequências. Via a reportagem como uma escola da vida. E aquela pauta, em termos existenciais, tinha tudo para ser riquíssima."

Quem operacionalizou a missão foi a chefe de reportagem Vera Araújo. Sua fonte era o chefe da Polícia Civil na época, Helio Luz. "A matéria só aconteceu porque o Helio confiava demais na gente. Pelo meu lado, procurei me certificar de que não estava colocando minha repórter em situação de risco", contou Vera ao TAB.

Ela se lembra de ter enfrentado uma carga de estresse muito grande. "Depois que a Paula entrou na carceragem, eu pensei: 'Meu Deus, que maluquice isso tudo!' Naqueles dias não consegui dormir nem chefiar os colegas."

Para Helio Luz, o pedido da matéria veio a calhar. "Nós queríamos desativar as cadeias nas delegacias, mandar os presos direto para as carceragens da Polinter, mas a liberação de vagas dependia do Desipe [Departamento do Sistema Penitenciário], subordinado à secretaria de Justiça. Ocorre que eles tinham um acordo com as facções, e estavam dando preferência de vagas para os detentos do Comando Vermelho, do Terceiro Comando, o que era um absurdo. Colocar uma jornalista dentro da carceragem era uma maneira de denunciar o que estava acontecendo."

Mães seguram cartazes durante manifestação de protesto na porta do Tribunal do Júri, exigindo condenação de Paula Thomaz, em 1997 - Patrícia Santos/Folhapress - Patrícia Santos/Folhapress
Mães seguram cartazes durante manifestação de protesto na porta do Tribunal do Júri, exigindo condenação de Paula Thomaz, em 1997
Imagem: Patrícia Santos/Folhapress

Flagrante na Central do Brasil

Quinze dias depois que Vera conversou com Helio Luz sobre a pauta, ele chamou Paula Máiran na chefia de polícia. "Tá tudo certo", disse. De acordo com o combinado, Maria do Socorro tinha sido presa em flagrante, na Central do Brasil, por estelionato.

"O Hélio me explicou rapidamente que havia celas de diferentes perfis de presas: 'perigosas', 'lésbicas', 'idosas', 'evangélicas'... eu ia ficar na das 'calmas' — que não davam problemas. Segundo ele, o 171 era um artigo bom porque eu não precisaria dominar nenhum jargão, ou modo de operar, como acontecia no tráfico."

Na sala de Luz, Máiran teve a primeira reação adversa. "Menstruei. Foi um negócio inesperado, fora de hora, eu me lembro que estava com calça jeans clara e uma camiseta branca, não tinha o que fazer."

Apresentada ao diretor da Polinter, ela entrou em um Chevette preto e branco, da frota da polícia, e rodou com ele por uma porção de inferninhos no centro da cidade. "Ele não falava nada. Depois de mais de uma hora, me deixou na cadeia central da Polinter."

Tiros pela janela

Ao sair do carro, Maria do Socorro foi algemada. "Senti na hora o efeito moral. Murchei."

Os dois carcereiros que a levaram até Campo Grande, no banco de trás de um camburão, a apelidaram de "Mary Help".

A primeira pergunta deles foi "O que você aprontou?". Só então, diz ela, "caiu a ficha". "Eu pensei: 'Gente, o que eu tô fazendo aqui?'"

"Na Avenida Brasil (via expressa que atravessa partes das zonas norte e oeste do Rio), eles atiravam pela janela, não sei se para me aterrorizar. Um dirigia feito um louco, o outro ia ao lado fazendo merda. Lembro que falei 'Isso aqui tá tenso'. Eles avisaram que a gente ia passar para pegar outra presa. Era uma senhora que levou droga para o marido na cadeia."

Na Polinter, as colocaram em um cubículo, "uma jaulazinha, eu toda suja de sangue".

Chuveiro acima do vaso

O chuveiro, na cela, ficava acima do vaso, ambos resguardados apenas por uma mureta de pouco mais de um metro de altura. Como aquele era o canto mais fresco do lugar, as presas colocavam as comidas (pão, presunto, queijo, café) ao redor do boi (vaso), a fim de mantê-las conservadas. "Na hora de tomar banho, cuidado para não molhar as comidas", avisaram à recém-chegada.

O status de Paula Thomaz na cela saltava aos olhos. Filha única, seu endereço anterior era um apartamento na Avenida Atlântica, uma das mais valorizadas do Rio. Como tinha recursos, usava-os para praticar uma política de bom relacionamento na carceragem. "Ela contratava as presas para fazer tudo, e pagava bem."

A mãe da presa rica a abastecia na cadeia com os melhores xampus e sabonetes. "A Paula tinha o cabelo comprido, na cintura, e tomava muitos banhos. Acontece que a cela era úmida, não entrava luz, e ela não frequentava o banho de sol. Ficava cheia de urticária. Seus maiores medos eram pegar piolho e ser assassinada por alguma fã da Daniella Perez."

De vez em quando, Maria do Socorro saía de perto de Paula Thomaz "para não dar bandeira". Ao mesmo tempo, a missão de Paula Máiran ali a estava perturbando. "Comecei a sofrer uma crise ética, a me sentir espiã daquelas mulheres, traindo a confiança delas."

A atriz Daniella Perez e o ator Guilherme de Pádua, em cena da novela 'De corpo e alma', da TV Globo (1992) - Reprodução - Reprodução
A atriz Daniella Perez e o ator Guilherme de Pádua, em cena da novela 'De corpo e alma', da TV Globo (1992)
Imagem: Reprodução

Desconstruindo o monstro

À medida em que a convivência de Maria do Socorro com Thomaz se estreitava, Paula Máiran ia "descontruindo o monstro".

"Eu tinha lido, por exemplo, que a Paula era envolvida com magia negra e fazia bruxaria. Aí, na cela, o que eu encontro ao lado do colchonete dela? Uma imagem de Nossa Senhora, dada pelas freiras do colégio em que ela estudou. Eu lembro de ouvi-la dizer: 'As pessoas falam que seria bom para a minha imagem virar evangélica, mas eu não posso trair Nossa Senhora'."

Segundo Máiran, Thomaz passava horas com a cabeça envolta em um cobertor, e às vezes tinha crises de choro convulsivas. "Ela sofria sozinha, ficava muito tempo com ela mesma. E eu não vou botar isso na matéria?"

Colocou tudo.

Soltura de Maria do Socorro

"Mary Help! Arruma tuas coisas que tu vai ser transferida!", gritou seu Galintho, chefe da carceragem, na noite de terça-feira, 25 de abril. "Fiquei tão nervosa que não conseguia concatenar as ideias. Foram aquelas mulheres, que eu espionei por quase três dias, que me ajudaram a colocar minhas coisas em uma sacola, e ainda escreveram bilhetinhos carinhosos com mensagens tipo 'Apareceu sua liberdade, fica calma!' e 'Vou orar por você!'".

Vera Araújo foi resgatá-la pessoalmente. "Ela me abraçou e, em seguida, me empurrou, porque eu estava fedendo muito. Não me dava conta do meu cheiro de cadeia."

"É verdade", lembra Vera, rindo. "Tenho o olfato muito sensível."

Paula chegou em casa, tomou um banho, dormiu, acordou e foi para a redação. "O Eucimar me trancou na sala dele e falou: 'Você só sai daqui quando acabar de escrever'. A pauta era sigilosa, né? Então, um dia depois de deixar a cadeia, despejei 200 cm de texto no computador."

Recortes de jornal guardados por Paula Máiran - Paulo Sampaio/UOL - Paulo Sampaio/UOL
Recortes de jornal guardados por Paula Máiran
Imagem: Paulo Sampaio/UOL

Redenção necessária

Quando acabou de escrever, Máiran pediu a um motorista do jornal que a levasse a Polinter de Campo Grande. Sentiu necessidade de desmascarar Maria do Socorro para as colegas de cela.

"Cheguei lá tarde, é no fim de Campo Grande. No pátio que dá acesso à cadeia estava um dos carcereiros, seu Coelho, só ele, com o fuzilzão na mão, sentadinho. 'E aí Mary Help, o que houve? Quer voltar?' Eu menti de novo: 'Não, seu Coelho, é que eu peguei um dinheiro emprestado com a Paula, preciso pagar'."

Seu Coelho reagiu com um "de jeito nenhum, nem pensar!".

Ela então contou toda a verdade. O carcereiro congelou. "Vi que ele não sabia mesmo do combinado. O cara entrou em transe, deu uma travada, e eu: 'Seu Coelho, seu Coelho'. Ele: 'Calma, pera aí que eu tô fazendo a retrospectiva pra ver se eu fiz alguma merda na sua frente'."

No fim, ele permitiu a entrada de Paula Máiran. Ao vê-la, Thomaz exclamou: "Caramba!" E depois: "Não é a primeira vez que infiltram alguém na minha cela. Fazem isso até para tentar arrancar de mim uma confissão." Máiran garantiu que não estava ali para isso, e Thomaz disse que daria um voto de confiança a ela: "Vou ler a matéria".

Robenice pediu para não esquecer de colocá-la no texto. Laura, a punguista, disse que já havia desconfiado. As outras reagiram tranquilamente.

Engavetamento

O diretor de redação de O Dia gostou e não gostou do texto. "Quando acabou de ler, ele em pé, eu sentada, falou: 'Cara, tá muito bem escrito, mas eu não sei o que eu faço com isso'. E engavetou."

A publicação ocorreu cerca de duas semanas depois, em 12 de maio de 1996, em um formato que levou Paula Máiran a ter uma recidiva da crise ética. A chefia havia decidido apresentar o texto como "um depoimento da estelionatária M., 27 anos, bom nível cultural", como se a repórter tivesse entrevistado uma detenta.

"Fiquei furiosa. Perguntei pelo Eucimar, ele tinha saído. Eu exigi que saísse uma errata. Publicaram na página 3, quase escondido, só para me calar."

Ao TAB, Eucimar afirma que não se lembra de quase nada do episódio. "Faz muito tempo", disse, vagamente.

Máiran se revoltou quando viu que a matéria seria publicada no formato de um depoimento da "estelionatária M" - Paulo Sampaio/UOL - Paulo Sampaio/UOL
Máiran se revoltou quando viu que a matéria seria publicada no formato de um depoimento da "estelionatária M"
Imagem: Paulo Sampaio/UOL

Reprovação dos colegas

Aquilo foi só o começo dos transtornos que a reportagem traria para Máiran.

"A matéria saiu em um domingo, com destaque na primeira página. Na segunda-feira, a energia na redação estava tão pesada que quase dava para tocar. Em coberturas na rua, colegas de outros jornais diziam: 'Cara, que horror, você virou defensora de assassina?'"

Vera Araújo lembra o "climão". "Não foi fácil para a Paula. Ela enfrentou uma situação bem complicada com os colegas."

Dezenas de cartas de leitores pediam a morte da repórter.

Paula Thomaz gostou da matéria. A partir de então, quando tinha de falar com a imprensa, chamava Paula Máiran.

Testemunha de defesa

Quase um ano depois, a história de Máiran na cela da Polinter voltou a assombrá-la. Ela foi arrolada como testemunha de defesa — a única — no julgamento de Thomaz, marcado para maio de 1997.

Conta que até tentou evitar. "Pedi ao Carlos Eduardo Machado [advogado de Thomaz] para me tirar daquilo, mas ele falou que não tinha como abrir mão do meu depoimento. Eu não podia dizer 'não' a uma ordem judicial."

Iniciado no dia 12 de maio, o julgamento mobilizou a imprensa de todo o país e atraiu artistas, fãs e militantes dos direitos humanos. Como Máiran não podia deixar o Fórum, dormiu em uma sala contígua à tribuna, ladeada por duas policiais. Ela diz que não recebeu qualquer orientação do setor jurídico do jornal sobre como agir.

"Estranhamente, eu estava calma. A Glória Perez, como assistente do MP [Ministério Público], formulava perguntas que o promotor fazia para o juiz, e o juiz para mim. Eu me lembro que eles queriam saber se, na cadeia, a Paula confessava a culpa. Eu disse que ela se dizia inocente, eles perguntaram se eu acreditava. Expliquei que, como repórter, eu não tinha que acreditar, eu tinha que escutar."

Os promotores insistiram: "E como pessoa, no seu íntimo, você acreditou?" Máiran respondeu que, como pessoa, no seu íntimo, ela era "exatamente igual à repórter".

Quando a questionaram sobre quem autorizou sua entrada na cadeia, a repórter disse que se reservava o direito ao sigilo da fonte — embora Helio Luz a houvesse liberado a declarar que foi ele.

Luz: "Não havia nada de ilegal naquilo. Eu era o chefe da polícia, estava dentro dos meus atributos colocar gente na cadeia para descobrir o que estava acontecendo lá dentro".

Em uma entrevista à rádio Globo, Glória Perez declarou: "Além do nome e da aparência, essa jornalista tem afinidades de caráter e personalidade com a assassina".

A reportagem tentou saber se Perez mantinha o julgamento, 25 anos depois, mas sua assessoria não retornou.

Paula e Guilherme de Pádua, no tribunal - Reprodução - Reprodução
Paula e Guilherme de Pádua, no tribunal
Imagem: Reprodução

Freixo, Detran, sindicato

Paula Máiran ainda trabalhou por três anos no O Dia, seguiu como repórter em outras redações grandes (Jornal do Brasil, Estadão) até que, em 2007, após sofrer assédio sexual do chefe no jornal Extra, pediu demissão e emendou pequenas temporadas em uma série de veículos menores. No caminho, teve uma filha, hoje com 18 anos.

Em 2008, voltou à redação do Jornal do Brasil para cobrir a eleição municipal. Ao fim, aceitou o convite do deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) para ser chefe de comunicação de seu gabinete. Na sequência, trabalhou dois anos na diretoria do Detran e, em 2013, foi eleita presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, desbancando uma gestão que se perpetuava havia 20 anos.

Por questões ideológicas, em 2016 ela deixou o sindicato e passou a sobreviver como jornalista freelancer. "Quando fiz 40 anos, decidi que aquilo era metade da minha vida e que, dali para a frente, eu ia ser ainda mais louca do que antes. Só faria o que quisesse."

O veredicto de Máiran

Depois de seis anos presa, Paula Thomaz passou a cumprir a pena em regime semiaberto, alterou o sobrenome e se formou em direito. Casou-se com um advogado, teve uma filha e mora no Rio. Guilherme de Pádua saiu da prisão em 1999, voltou para Belo Horizonte, cursou ciência da computação e tornou-se evangélico. Trabalhou na informatização do templo que frequentava, casou-se em 2017 pela terceira vez e reapareceu na mídia como militante bolsonarista.

Passado tanto tempo do julgamento, pergunto a Paula Máiran se ela escreveria a matéria da mesma maneira e se tem um veredicto para a ré. Ela diz que "nada mudou, pelo contrário".

"Quanto mais li sobre direitos humanos ou vivi a experiência concreta das lutas contra suas violações, mais reafirmei uma posição de reconhecimento e acolhimento da humanidade de pessoas acusadas de crimes ou mesmo condenadas. Não me atreveria a afirmar com toda certeza algo que não tenho condição de provar. Só sei que a condenação da Paula teve como base exclusivamente uma prova testemunhal de que ela teria estado presente no local e no momento do crime."

As duas Paulas voltaram a se procurar fora da cadeia, mas, pelos cálculos de Máiran, não se veem há cerca de uma década.