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De máscara e proteção de acrílico, Papai Noel volta aos shoppings do Rio

Dentro da estrutura de acrílico, Roberto Rezende, 76, que trabalha como Papai Noel desde 2018  - Daniele Dutra/UOL
Dentro da estrutura de acrílico, Roberto Rezende, 76, que trabalha como Papai Noel desde 2018
Imagem: Daniele Dutra/UOL

Daniele Dutra

Colaboração para o TAB, do Rio

16/11/2021 04h01

Nem a chuva que caía desanimou a clientela. Às 14h30 da última quinta-feira (11), os corredores, a praça de alimentação e algumas lojas do NorteShopping, em Cachambi, na zona norte do Rio, estavam cheios como se fosse sábado à tarde. Dois anos depois do último Natal "normal", pré-pandemia, o Papai Noel voltava ao seu posto. No "Cantinho do Noel" já era possível ver uma pequena fila se formando.

A indumentária continua a mesma, mas sentar-se no colo do Papai Noel e abraçá-lo são coisas do passado. As famílias se acomodam num sofá para bater um papo com o bom velhinho e fazer o pedido dos presentes, enquanto ele fica numa cadeira ao lado, protegido por uma estrutura acrílica transparente.

Papai Noel desde 2018, Roberto Rezende, 76, continuou trabalhando mesmo durante a pandemia. Como os eventos natalinos foram suspensos em todos os shoppings, a solução foi recorrer às chamadas de vídeo. Rezende foi um dos poucos da categoria que conseguiu um extra de Natal, trabalhando para o shopping Ponta Negra, em Manaus, para entrar ao vivo do Rio de Janeiro e bater um papo com as crianças manauaras.

A enfermeira Vivian Proença com os filhos, no sofá ao lado do Cantinho do Noel, no NorteShopping, no Rio - Daniele Dutra/UOL - Daniele Dutra/UOL
A enfermeira Vivian Proença com os filhos, no sofá ao lado do Cantinho do Noel, no NorteShopping, no Rio
Imagem: Daniele Dutra/UOL

Mesmo com algumas intercorrências, como a queda da conexão da internet, a experiência foi positiva. "Todo mundo gostou. Cheguei a dar entrevista para três emissoras de TV. Me chamaram para ir esse ano novamente, com direito a passagem, hospedagem, tudo incluso. Mas, como consegui este emprego num shopping ao lado da minha casa, decidi ficar por aqui mesmo", disse Rezende ao TAB.

A Escola de Papai Noel do Brasil, responsável por treinar pessoas de todo o País, ofereceu aulas e treinamentos sobre tecnologia e apresentou as ferramentas para os Papais Noéis realizarem as transmissões. Mesmo assim, o número de contratações caiu 75% no último Natal. Nos anos anteriores, eles faziam em média de 15 a 20 contratos com os shoppings. Em 2020, esse número caiu para 5.

"Foi um momento difícil, frio, sem contato com as crianças, sem bater papo... Muito triste. O lado financeiro também foi bem ruim porque ninguém ganhou dinheiro. Esse ano os contratantes estão mais assíduos, acertando serviço desde junho, julho, perguntando como vai ser", explica Limachem Cherem, presidente da Escola de Papai Noel. Segundo ele, o problema é que os contratantes querem fechar o serviço pensando nos valores de 2019.

Hoje em dia, 40 dias de participação de Papai Noel, com carga de 8 horas diárias, rendem aos Papais Noéis a partir de R$ 12 mil — um contrato médio com a Escola está em torno de R$ 20 mil e inclui fornecimento de material (máscaras, luvas), roupas e lavagem semanal do uniforme. Segundo Cherem, os valores sofreram reajuste de 10% em relação a 2019.

Os pais de Alice, Thaís dos Santos e Guilherme Barbosa, no NorteShopping, no Rio - Daniele Dutra/UOL - Daniele Dutra/UOL
Os pais de Alice, Thaís dos Santos e Guilherme Barbosa, no NorteShopping, no Rio
Imagem: Daniele Dutra/UOL

Com vacina, dá

Alice Fernandes, 9, batia um papo ao lado do Papai Noel enquanto os pais registravam o momento em foto. "Com a vacinação, as pessoas estão perdendo o medo de vir ao shopping. Tem mais gente saindo", disse a mãe de Alice, Thaís dos Santos. Guilherme Barbosa, o pai, conta que, ano passado, fez a filha conversar com o Papai Noel por uma chamada de vídeo.

Com os filhos de 4 e 14 anos, a enfermeira Vivian Proença aproveitou a visita ao shopping para tirar uma foto em família. "Nós amamos o Natal e o que a época representa. Em 2020, infelizmente, nada disso aconteceu. A vacinação foi de extrema importância para estarmos hoje aqui", disse a enfermeira ao TAB.

A facilidade de conversar com as crianças veio da profissão exercida por 47 anos como taxista. Mesmo aposentado, Roberto Rezende trabalhou rodando pelo Rio até o ano passado, mas precisou parar por causa da pandemia.

Além de perder alguns amigos na pandemia, Rezende acabou ficando viúvo em outubro de 2020: perdeu a companheira para a covid-19. Em meio ao luto, vestiu-se de Papai Noel e decidiu fazer as crianças sorrirem, mesmo que online. Em três meses, Rezende vai ser avô pela primeira vez.

Além das transmissões, Rezende e outros Papais Noéis trabalharam presencialmente na noite de Natal, entregando presentes na casa de algumas famílias. O serviço é oferecido todos os anos: para receber a visita exclusiva de 90 minutos, é necessário desembolsar cerca de R$ 900.

"Achei que nem fosse ter procura, mas acabei visitando quatro casas na noite de Natal. Trabalhamos com toda a proteção, usamos máscara, luva descartável em baixo da luva de pano, propé por dentro da bota e nenhum contato físico. Cheguei à casa do meu filho depois da uma da manhã", contou Rezende, enquanto aguardava a próxima criança para tirar foto.

Retomada do comércio

De frente ao Cantinho do Papai Noel, uma sorveteria recebia as famílias que passavam por lá depois da foto. "Acho que esse ano vai ser melhor. O fluxo de pessoas está bem mais alto", disse Bruna Pereira, assistente de gerente da sorveteria.

Metros à frente, atendentes de uma loja de chocolates abastecida com panetones recheados estavam otimistas com as vendas para o fim do ano. "A loja abriu há pouco tempo e o movimento tem sido muito bom. Com a volta do Papai Noel e a vacinação avançada, as pessoas estão perdendo o medo de sair. Entram na loja de curiosidade e saem com três, quatro panetones de uma vez", disse Guilherme Mendonça, 21.

Apresentação noturna no NorteShopping, em Del Castilho, no Rio - Daniele Dutra/UOL - Daniele Dutra/UOL
Apresentação noturna no NorteShopping, em Del Castilho, no Rio
Imagem: Daniele Dutra/UOL

Em uma loja de bijuteria a poucos metros da decoração de Natal, a subgerente Thamires Pires, 27, já está pensando no Ano Novo. "Ano passado o Papai Noel foi virtual, então acho que esse ano vai ser bem melhor. Investimos em mercadorias diferentes em 2021. A expectativa é que a loja venda de 40% a 50% a mais do que no ano passado", disse.

Já a loja de brinquedos conseguiu superar as vendas de 2019 só no Dia das Crianças. "Percebemos que as pessoas estão comprando menos quantidade, mas produtos mais caros. Estamos bem confiantes para atingir as metas de final de ano", contou a gerente Marcela Couto, 43.

Às 19h30, com o shopping bem mais cheio, muitas pessoas se reuniram em frente à decoração de Natal para tirar fotos, assistir à cantata e ver a apresentação oficial do Papai Noel, que apareceu de máscara transparente. Vestido a rigor, ele dá as caras em 2021, mas a pandemia ainda não acabou.