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Como a pandemia afetou uma rede social brasileira de sexo liberal

TAB Futuro do Sexo - sexting e nudes - Arte/UOL
TAB Futuro do Sexo - sexting e nudes
Imagem: Arte/UOL

Marie Declercq

Do TAB

09/08/2020 04h04

O Sexlog parece ser um nicho sexual obscuro das redes sociais, mas o número total de usuários cadastrados prova que a plataforma está longe de ser um segredo.

São 13,1 milhões de usuários no total, sendo casais heterossexuais interessados em swing (troca de casais) a grande parte dos frequentadores. O site conecta internautas dispostos a se encontrar ao vivo e também permite que exibicionistas possam fazer livestreaming (transmissão ao vivo).

Assim como tudo, o "pequeno" universo do Sexlog também foi afetado pelo distanciamento social causado pela pandemia de Covid-19.

Em uma pesquisa inédita feita para o TAB, 18,5 mil usuários da plataforma responderam como estão se relacionando entre si e com as novas tecnologias nesse período dentro de casa.

Apesar de grande parte dos usuários do site serem homens, a diretora de comunicação da plataforma, Mayumi Sato, que também é colunista do UOL, notou um crescimento no interesse de usuárias e de casais lésbicos. De acordo com Sato, a pandemia teve participação nesse aumento da curiosidade — mas foi fruto de um esforço de longo prazo para atrair mais mulheres para o site.

"A gente tem visto esse público não só crescer, mas também observamos que elas estão permanecendo na plataforma, consumindo e produzindo mais conteúdo, além de engajar outras pessoas. A gente liberou para todo mundo (inclusive os não-assinantes) o recurso de livecam (transmissão ao vivo). O mais interessante é que percebemos que muito mais mulheres estão assistindo às livecams do que antigamente", conta. "Nossa expectativa era de que teríamos mais mulheres se exibindo, porque existe até esse preconceito de achar que, naturalmente, as mulheres são mais exibicionistas, e os homens, mais voyeuristas. Mas elas também gostam de assistir."

Segundo os dados coletados pelo site, as transmissões ao vivo dos usuários aumentaram 60% em comparação a períodos anteriores. Desde março, o site tem 75% mais mulheres e 80% a mais de casais — tanto assistindo quanto se exibindo. Vale dizer que as livecams, mesmo antes da pandemia, quando eram restritas aos assinantes, não permitem que os espectadores paguem por minuto a quem se exibe. Portanto, é diferente do trabalho de camming.

Outra mudança de comportamento positiva destacada no microcosmo da plataforma foi uma abertura maior para a diversidade. Segundo Sato, até alguns meses atrás, uma grade demanda ao suporte da plataforma vinha de clientes que pediam para que seu perfil não aparecesse para pessoas pelas quais elas não se interessam. "Era muito comum receber pedido de homem hétero para que o perfil dele não aparecesse, por exemplo, para homens gays. Se essas coisas ainda não estão resolvidas na sociedade, imagina dentro do Sexlog. Mas vemos uma aceitação maior de diversidade, inclusive por grupos que pediam para se isolar. Hoje, vemos que um homem hétero é capaz de curtir uma foto de outro homem sem se reprimir."

Dos mais de 18,5 mil usuários que responderam às perguntas formuladas pelo TAB, foi possível constatar que a reconhecer uma mudança drástica na vida e no comportamento ainda não é consenso entre muitos brasileiros. Por mais que tenhamos tentado adaptar nossa vida sexual aos recursos que temos dentro de casa (aderir ao sexo virtual, comprar vibradores caros ou recorrer ao trabalho sexual), ainda estamos esperando a normalidade voltar.

"Estou um pouco cansada de ouvir essa expressão 'novo normal', porque acho que temos muita pressa em mudar a forma com que operamos na sociedade", diz Sato. "É difícil que minha expectativa em relação ao sexo, ao desejo e ao contato mude em apenas três ou seis meses. O que sentimos dentro da comunidade do Sexlog é que tudo está em um momento de suspensão. Essa percepção de que as pessoas já estão considerando esse cenário da pandemia como algo 'normal' é uma visão mais de especialistas. NO cotidiano, a preocupação é com a volta do filho para a escola, ou com arrumar a casa, para poder trabalhar melhor. É apressado achar que o sexo que alguém faz desde que começou a ter vida sexual irá mudar tão drasticamente."

A pesquisa demonstrou justamente a demora em se adaptar ao "novo normal" — se é que podemos estender isso a toda a população brasileira, com grande parte dos comércios reabrindo em diversas cidades. Grande parte dos usuários diz ter furado a quarentena para transar, mas aproveitaram a recomendação de não sair de casa para experimentar mais recursos da plataforma, como a do livestreaming, e para fazer mais sexo virtual. Apesar dos furões de quarentena serem recorrentes, os usuários admitem que terão de pensar em tomar mais cuidado ao sair para encontrar com alguém.

Este material faz parte do especial do TAB sobre o Futuro do Sexo. Leia ou assista mais conteúdos inéditos a seguir:

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