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Influencers do sexo liberal e swing coaches dão treinamento para iniciantes

Marina e Márcio (nomes fictícios), os idealizadores da Semana Liberal, promovida pelo Sexlog - André Vieira/Divulgação
Marina e Márcio (nomes fictícios), os idealizadores da Semana Liberal, promovida pelo Sexlog
Imagem: André Vieira/Divulgação

Carlos Minuano

Colaboração para o TAB

21/12/2020 04h01

Já pensou em se jogar numa festinha de swing (troca de casais), mas travou? Tem que estar casado? Pode ir sozinho? Como propor para o parceiro (a)? O que dizer aos amigos e família? Influenciadores do sexo livre e swing coaches estão oferecendo treinamentos teóricos e até práticos para ninguém ficar perdido ou se dar mal em alguma baladinha mais safada.

Entre 7 e 12 de dezembro, casais do chamado circuito liberal ofereceram uma espécie de workshop de swing a distância. Pela internet, interessados e curiosos em geral puderam saber mais sobre o mundo da troca de casais, do ménage (sexo a três), grupal e de outros fetiches como "cuckold" e "hotwife" ("corno" e "esposa quente", em inglês).

A Semana Liberal foi idealizada pelo casal Marina e Marcio (nomes fictícios), experientes no meio, e realizada pela Sexlog, rede social de encontros e troca de casais. Foram horas de conteúdo. Diariamente, por email ou pelo Telegram, participantes recebiam links dos vídeos dos casais influencers e swing coaches.

Quem preferiu não aparecer teve o anonimato garantido. Mas nada impediu o acesso direto aos especialistas (cinco casais e duas mulheres). A maioria divulgou contatos de redes sociais para alguma dúvida, ou até algo mais. Porém, a interação mesmo com os alunos, oficialmente, ocorreu apenas no encerramento, em uma live que reuniu todos os "professores de swing".

Muita gente embarcou na onda. O evento gratuito teve as vagas esgotadas em pouco tempo. "Como a maior parte dos inscritos é casal, estamos falando com quase 4 mil pessoas", conta a diretora de marketing do Sexlog e colunista do UOL, Mayumi Sato. A reportagem do TAB teve acesso ao treinamento.

Casal Bella e Arthur, que participaram da Semana Liberal sobre swing, promovida pelo Sexlog - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Casal Bella e Arthur, que participaram da Semana Liberal sobre swing, promovida pelo Sexlog
Imagem: Arquivo pessoal

Desconstrução e quebra de tabus

Quem achou que as aulas seriam recheadas de erotismo, com casais usando roupas sensuais, fazendo alguma demonstração prática, quebrou a cara. Não teve.

Em vídeos quase sem edição, semelhante às lives que estão rolando aos montes, casais vestindo trajes comuns falaram sobre alguma vertente do chamado sexo liberal.

A primeira aula do curso de swing a distância (com pouco mais de meia hora) foi apresentada por Camila e Edgar. O casal - de passado religioso e conservador — hoje comanda uma sociedade secreta de swing, chamada Voluptas. Quem mais falou foi a esposa.

Sobre a iniciação do casal, Camila não fez rodeios. "Foi bem natural. Quando vimos, já estávamos no meio da putaria." Não significa que foi simples. Segundo ela, swing e sexo liberal, geralmente, envolvem desconstrução e quebra de tabus.

"Não gostava de transar, era reprimida, com baixa autoestima, vim de um casamento abusivo, tinha dúvida se era lésbica ou assexuada." Em sua apresentação, avançou tocando em pontos sensíveis, como a descoberta de que o desinteresse pelo sexo, antes do swing, tinha a ver com vergonha. "Me sentia gorda e feia."

Um dia começaram a brincar com a possibilidade de incluírem mais um homem na cama e o tesão começou a crescer, relembra Camila. "Transamos com São Paulo inteiro na nossa imaginação e aos poucos fui me entregando ao prazer."

Aos iniciantes, ela avisa que swing não salva casamento. "Se o casal não estiver bem, vai afundar mais. É preciso amor e cumplicidade, que se excitem juntos com a ideia antes de trazer alguém para a relação." E alertou: o mundo swingueiro real é diferente do da fantasia. "O tesão reduz no mínimo pela metade."

Krissia e Fagner, casal que participou da Semana Liberal promovida pelo Sexlog - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Krissia e Fagner, casal que participou da Semana Liberal promovida pelo Sexlog
Imagem: Arquivo pessoal

Ménage masculino

O swing não é tão liberal quanto parece, principalmente quando o tema é carícia entre homens. Frequentadores afirmam, contudo, que o cenário está mudando.

O assunto ménage com bi masculino, ainda polêmico, foi trazido ao evento por Arthur e Bella, o casal mais jovem na Semana Liberal (ambos com menos de 30). Além de "swing influencers", eles se definem como bissexuais não-monogâmicos e exibicionistas.

Se, no swing, o sexo entre homens ainda é um tabu, beijo então está em outro nível piorado. "Já encontrei muitos casais que topam fazer troca, mas não beijam", disse Arthur, no vídeo. Mais extrovertido que Bella, ele relatou dificuldades semelhantes em sua iniciação bissexual. "Sexo oral rolou fácil para os dois. Beijar foi complicado."

Arthur e Bella aproveitaram para dar dicas sobre pegging, a prática preferida do casal, quando o homem é penetrado pela mulher (usando um cinto com vibrador, por exemplo).

O recado principal foi para casais que têm vontade, mas que ainda não experimentaram por preconceito. Diferentemente do que a maioria pensa, a prática não torna o homem gay, garante Arthur. "Continua sendo uma relação heterossexual e tem muita mulher que adora."

Marina e Marcio (nomes fictícios), os idealizadores da Semana Liberal, no Sexlog - André Vieira/Divulgação - André Vieira/Divulgação
Marina e Marcio, idealizadores da Semana Liberal
Imagem: André Vieira/Divulgação

Quem quer ser corno?

Segundo a base de dados do Sexlog, que possui mais de 16 milhões de usuários cadastrados, um dos fetiches mais pesquisados é a prática do cuckold, que ocupa o oitavo lugar entre fantasias mais buscadas. O desejo de ver a esposa fazendo sexo com outro homem. Foi o tema do workshop de Krissia e Fagner.

Um ponto alto da aula foi a explicação sobre as variações possíveis da prática. Tem quem goste de olhar, de participar, ou custear a pulada de cerca da mulher. E tem ainda o afeminado, que curte ser uma espécie de empregada durante a transa.

Um pouco mais à vontade que os outros casais, Krissia e Fagner esclareceram dúvidas bem comuns entre novatos da prática, como escolher o cara certo, por exemplo. O critério, segundo o casal, não deve se limitar ao tamanho do pênis do candidato. "Tem que rolar uma química, uma conversa boa", diz Krissia. "Se os dois vão transar com o cara, o casal decide, do contrário deixa ela escolher", sugere Fagner, sobre o processo seletivo.

Depois, segurando um vibrador, bem avantajado, mandou mais um recadinho para os homens. "Não sai por aí mandando foto do seu pau, o meio liberal não é bagunça." Depois se corrigiu. "Mas se for maior do que esse, pode mandar."

Adianta fazer e não contar para ninguém?

Discrição e sigilo são fundamentais no swing, mas exibicionismo é outro fetiche comum entre adeptos. Marina e Marcio que o digam. Os idealizadores da Semana Liberal, logo que mergulharam no mundo da troca de casais em 2005, criaram um blog para contar suas aventuras sexuais.

E o prazer virou profissão. Ambos atuam desde 2011 como swing coaches, orientando casais que desejam se iniciar no meio, e dão cursos para iniciantes. Durante o dia, teoria. À noite, prática. Por causa da pandemia as aulas pararam, mas prometeram voltar logo.

A Semana Liberal terminou com uma "live grupal". Participaram os casais influencers, swing coaches e inscritos no evento. Terminou como começou, sexo só na conversa. Mas, para 2021, os planos são mais ousados, garantiram os organizadores.