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Instagram e pandemia: como cartunistas têm encarado o ano de 2020

Charge de Laerte, na parede do box do banheiro - Arquivo pessoal
Charge de Laerte, na parede do box do banheiro Imagem: Arquivo pessoal

Lucas Buzatti

Colaboração para o TAB, de Belo Horizonte

25/09/2020 04h01

A pandemia de Covid-19 mal se instalava no Brasil quando a professora de português Fernanda Dusse pensou em abordar o assunto com os alunos do primeiro ano do Ensino Médio do CEFET, em Belo Horizonte. Ela preparou uma aula com charges e cartuns, partindo da ideia de que os gêneros poderiam traçar uma linha histórica sobre o tema no Brasil. Mas a conversa na sala de aula não chegou a acontecer.

Em agosto, quando a escola retomou as atividades de forma virtual, Dusse trouxe o conteúdo de volta, a partir dos trabalhos do cartunista Duke. "Os alunos já conheciam o trabalho dele e adoraram. Depois, eles tiveram que fazer charges e o resultado foi muito bom, muito crítico", conta. "É uma geração com um conhecimento de imagem muito elevado. Estão muito acostumados com essa capacidade da imagem de conversar, porque é o que vêem nas redes sociais", diz a professora.

Para Dusse, a charge impressiona por trazer "pouco" e dizer muito. "Não é à toa que a charge cai tanto em provas de múltiplas escolha, como a do Enem. Ela exige que o leitor tenha um conhecimento grande de mundo e consiga perceber uma crítica maior que a imagem."

Formação de senso crítico

O cartunista carioca André Dahmer faz coro. "É importante, principalmente numa época em que a imagem tem tanta força e as informações são tão sucintas e rasas. Contribuímos para formar opinião. Mas o que muda o mundo não são os cartunistas, são os professores. Sucateados como nunca, nestes tempos."

Para Dahmer, fazer charges em tempos de pandemia tornou-se, também, "trabalhar em cima do surrealismo que se apoderou do país, ter de fazer humor com coisas insanas, como pessoas que não querem tomar vacina ou que acreditam que a Terra é plana", afirma.

Charges na pandemia

Laerte defende que chargistas trabalham com a realidade, "seja ela qual for". "Não existe material melhor ou pior. As charges serão boas ou ruins dependendo da cabeça que as propõe, das ideias que a povoam, das conexões que consegue estabelecer", afirma a cartunista paulistana, lembrando a importância de tratar com cuidado o momento. "Seria cruel e cínico classificar uma tragédia como a pandemia de 'material interessante', não?", questiona ela, frente à pergunta de TAB.

Para Daniel Lafayette, o Lafa, é necessário um olhar cuidadoso não só para a pandemia, mas também para as várias tragédias em curso no Brasil. "Jair Bolsonaro é uma tragédia que foi trazida, de certa forma, por nós mesmos. As charges são também uma forma de tentar conscientizar as pessoas de que algo errado está acontecendo", afirma o carioca. "As piadas que fiz nesta época não são piadas de rir alto."

Fabiane Langona, de Porto Alegre, defende que as charges são reinterpretações da realidade, e por isso refletem também os sentimentos que aquela realidade provoca em quem desenha. Para ela, a agressividade é uma necessidade. "Uma porrada mais leve e sutil continua sendo uma alternativa, mas algumas coisas não têm como ser abordadas com leveza", pontua.

A desenhista gaúcha ressalta o impacto que o trabalho gera, inclusive, na saúde mental de quem o produz. "Tento fugir de algumas, quando possível. Nunca gostei de me sentir pautada, mas às vezes não dá para evitar", afirma. "Desenho o Paulo Guedes, depois desenho um gatinho barrigudo com uma piada bem alienante, de propósito. Todos merecem um respiro. Tanto eu como os leitores."

Traços em tempos de Instagram

Sobre as charges na era das redes sociais, Fabiane diz não aguentar mais. "Tudo que eu quero é não ser uma prisioneira dessas mídias. Ter meu trabalho avaliado por engajamento, algoritmos, seguidores, me tornar refém, ser uma máquina de produzir conteúdo para atender a pautas do dia, ser um produto a ser consumido, engolido, deglutido, defecado", reflete. "Particularmente, sou feliz de ter meu trabalho impresso num espaço próprio. Sem uma publicidade de roupa chinesa embaixo ou um selfie da tia de máscara, livre do scroll sem fim", diz a cartunista, que mantém sua tira no jornal Folha de S.Paulo.

Afeito ao Instagram, o paulistano Vinícius Savron ressalta alguns prós das redes. Mesmo não possuindo um número exorbitante de seguidores no Instagram, ele tem uma média de alcance de 100 mil pessoas por semana. "É um feedback constante e, se filtrar bem, muito prazeroso. O fato de poder criar sua própria linha do tempo é positivo para os artistas independentes. A curadoria é feita pelo próprio usuário e isso ajuda no retorno financeiro, também, vendendo originais, trabalhando por comissão, fazendo vaquinha online para lançar impressos independentes."

Savron diz que "quebrou" antes do que imaginava na quarentena. "Fui tomado pela preocupação, pelo cansaço e por esse sentimento de impotência que abalou muita gente. Acabei tomando a decisão de parar um pouco", conta. "Fiquei um mês sem criar nada, juntou pressão e bloqueio criativo. Mas foi bom, voltei a desenhar diariamente e esse último mês foi um dos mais produtivos que tive em anos."

#CINEQUARENTENA 2: O Ataque dos vermes Malditos 2. 6 anos depois da estréia do primeiro filme, os Grabóides estão de volta, sem Bacon, sem dinheiro e sem Austrália mas com muita coragem de se reinventar. Em 1993 após produção do filme começava, com uma orçamento chuchu de 17 milhões de dólares e com locações na Austrália, mas essa alegria durou pouco, com o sucesso estrondoso que o Kevin Bacon tava, estrelando nada mais nada menos que Apollo 13 junto com Tom Hanks, o Kevin deixou o projeto, e com ele se foram 13 milhões do orçamento inicial, deixando apenas 4 para continuar a franquia. E esse, eu acredito ser o grande segredo dessa sequência, que, na maior parte do tempo, não decepciona ela entrega um filme decente mesmo com tantos por menores. Fred Ward antes side Kick do Bacon, agora volta como protagonista no papel do Earl, dando espaço para dois novos sidekicks, sendo um deles Michael Groos, no papel do fanático por armas,e afetado BURT (lembra dele, falei pra guardar esse nome!). Earl investiu todo seu dinheiro que fez caçando Grabóides em uma fazenda de emas, levando o coitado a falência, por isso ele aceita caçar os vermes de novo, que agoram estão atacando poços petrolíferos no México (o substituto da Austrália). Prepare-se para 45 minutos de filme com a tchurma caçando Grabóides com carrinhos de controle remotos devidamente dinamitados. É aqui que o filme apresenta seu plot, descobrimos que os vermes gigantes são apenas a fase primária de uma evolução metamórfica. O Grabóide carrega 3 hospedeiros dentro do corpo que vai continuar a evolução desse ser pré-histórico que, pasmem, ainda tem mais um grau de evolução que obviamente nós, pobres mortais, só vamos descobrir no 3o filme. Os Shriekers são uma espécie de velocirraptores obesos rebaixados, umas batatas pernudas, que não só vão tentar te comer, como também possuem uma antena infra-vermelha no topo das cabeças para enxergar suas presas. O resto do filme você acompanha a gangue lutando com esses novos monstros com novos níveis de imprevisibilidade, o perigo agora está debaixo da terra e andando sobre ela. E agora? Pra onde correr?

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André Dahmer ressalta que, apesar de o trabalho do cartunista ser solitário, o confinamento social traz consequências psicológicas. "Não tenho vocação para ermitão. Sempre gostei muito da rua e estou privado disso. Mas, na verdade, tem tanta gente mais privada de tanta coisa, que não tenho do que reclamar", diz.

Na mira do obscurantismo

Casos como o do cartunista carioca Renato Aroeira, envolvendo o presidente Bolsonaro, mostram que muitas vezes os desenhos podem incomodar os altos postos de poder. "Os signos podem ser vistos de forma rápida. Em todo governo autoritário há o perigo da censura, e é sempre muito comum que os chargistas sejam atacados", diz Lafa.

Para Laerte, o atual governo tem um projeto fascista em andamento, do qual faz parte o controle de mídia e a censura. "A tentativa de enquadrar o Aroeira é mais uma das provas dessa intenção. O Marcelo Adnet também foi ameaçado, o Latuff teve trabalhos atacados fisicamente, e bolsonaristas ameaçam chargistas da 'Folha' (Montanaro, Benett, Mor e eu) com ações judiciais", afirma. "Não são só as manifestações de humor que sofrem essa pressão. É também a arte, a literatura, o cinema, o teatro, a informação, o ensino, a ciência. É um governo que prega e tenta implantar o obscurantismo."

Na visão de Savron, a retaliação política explana ainda mais a necessidade das charges e cartuns em tempos tão distópicos. "A charge incomoda porque ela é de fácil disseminação, propõe formas diferente de enxergar o que está acontecendo e muitas vezes expressa de maneira simples um sentimento coletivo, um desabafo que precisa ser posto para fora. Nós, desenhistas, somos responsáveis por traduzir a revolta presa na garganta de muita gente."

Quem você indica?

Laerte: "Meus colegas da Folha, claro (João Montanaro, Benett, Mor, Leandro Assis e Triscila). Os que publicam na internet também: Alessandra, Jean Galvão, Jaguar, André Dahmer, Gonsales, Caco Galhardo, Fabiane, Estela May, Adão. Autoras de outros jornais e mídias, como a Clara Gomes, Helô Dângelo, Pablito".

Fabiane Langona: "Acho que o Daniel Lafayette está focado e mandado bem. Indico trabalhos que abordam a pandemia de forma mais subjetiva, que permitam uma mínima digressão".

André Dahmer: Destaco sempre a Laerte, que mantém seu trabalho no auge, quase aos 70 anos. Uma das figuras mais importantes do humor gráfico brasileiro de qualquer tempo. Destaco também o Daniel Lafayette, que faz um trabalho muito bom. Têm muitos para citar, mas eu ficaria com esses dois. O trabalho deles tem sido muito importante durante esse tempo de pandemia".

Daniel Lafayette: "É muita gente, mas de pronto eu lembraria do Aroeira e da Laerte, uma das maiores artistas gráficas do Brasil. O Arnaldo Branco tem feito umas coisas muito engraçadas e André Dahmer é incrível, uma antena do momento. Tem também um rapaz chamado Ribs, que fez coisas muito interessantes".

Vinícius Savron: "Em questão de trabalhos cobrindo a pandemia, eu diria que aprecio muito a acidez do Daniel Lafayette, a sagacidade na ponta da caneta do Gilmar e o impecável trabalho vetorial do Cristiano Siqueira".